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Acupuntura: como funciona?

Atualizado: 6 de jul. de 2020


Imagem: George Marks, Girl (6-7) Threading Needle, (b&w)


Para muita gente, a pergunta do título não tem resposta. Não é raro encontrar quem ache que a Acupuntura é apenas um placebo. No entanto, sabemos que o estímulo desencadeado pela inserção das agulhas alcança o sistema nervoso central e promove a liberação de diversas substâncias, em especial os neurotransmissores, levando a importantes efeitos analgésicos e anti-inflamatórios e a ações sobre a regulação do metabolismo, da imunidade e, inclusive, das nossas emoções.


Esses efeitos se dão em três níveis: local, espinhal e supraespinhal. O efeito local (ou periférico) envolve algumas reações químicas que ocorrem após a inserção das agulhas. Entre elas, podemos citar a liberação de óxido nítrico, substância que provoca a dilatação dos vasos sanguíneos fazendo com que cheguem mais oxigênio e nutrientes para a região agulhada e, assim, melhorando a dor. Há também uma redução de substâncias inflamatórias (incluindo uma conhecida como fator de necrose tumoral), diminuindo a inflamação local, e um aumento na liberação de adenosina, que tem propriedades analgésicas.


O mecanismo espinhal (ou segmentar) se refere à ação da Acupuntura sobre a medula espinhal e está relacionado ao chamado portão da dor. Esse portão seria uma espécie de comporta localizada numa área da medula espinhal conhecida como substância gelatinosa e que, quando aberta, permitiria a passagem dos estímulos dolorosos. A inserção das agulhas de Acupuntura provoca uma dor aguda, de alguns segundos de duração, que viaja até a substância gelatinosa e fecha o portão da dor. Com o portão fechado, os estímulos de dor crônica (aqui entendida como qualquer dor que dura mais do que alguns segundos) – que viajam por fibras nervosas diferentes daquelas que veiculam a dor aguda – são bloqueados, produzindo analgesia.


O mecanismo espinhal envolve também nossos arcos reflexos: o estímulo gerado pelo agulhamento é conduzido por fibras nervosas sensitivas até a medula espinhal e ativa uma resposta de relaxamento dos músculos. Isso explica por que a Acupuntura melhora condições como os torcicolos e os espasmos musculares.


Uma terceira forma de ação do mecanismo espinhal da Acupuntura diz respeito ao controle do sistema nervoso autônomo, responsável pelo controle dos órgãos internos e pelo equilíbrio do organismo. Através desse mecanismo, a inserção das agulhas ativa fibras simpáticas (um dos componentes do sistema nervoso autônomo; falaremos do outro componente – o sistema parassimpático – mais abaixo), levando a respostas de curto e longo prazo. Essas respostas influenciam as funções das vísceras e permitem, por exemplo, o controle de náuseas e vômitos (uma das indicações mais bem estabelecidas da Acupuntura).


Talvez a principal aplicação desse efeito sobre o sistema nervoso autônomo seja a Auriculoacupuntura, em que inserimos agulhas no pavilhão auricular (ou orelha externa) para obter efeitos a distância. O pavilhão auricular tem várias regiões, inervadas por diferentes ramificações nervosas, e seu agulhamento em determinado ponto estimula um dos ramos do nervo vago, por exemplo. Esse nervo é o maior do corpo humano e é o principal componente do sistema nervoso parassimpático, que, assim como o simpático, também controla várias das funções dos nossos órgãos internos.


Finalmente, o mecanismo supraespinhal (ou suprassegmentar) está relacionado ao que acontece num nível acima da medula espinhal, isto é, no nosso encéfalo. Esse mecanismo é responsável pelos efeitos mais sistêmicos, duradouros e sofisticados da Acupuntura e explica por que o agulhamento de determinados pontos alivia a dor (entre outras repercussões) em locais distantes.


O estímulo gerado pela inserção das agulhas passa pela medula espinhal e então segue dois caminhos: até o córtex cerebral, onde a sensação da ferroada se torna consciente; e até o tronco encefálico, estrutura situada entre o cérebro e a medula. No tronco encefálico, o estímulo ativa neurônios que descem até a medula e contêm serotonina. Esse neurotransmissor é liberado na substância gelatinosa e, por meio de outros neurônios, fecha o portão da dor, bloqueando a passagem dos estímulos de dor crônica.


Do córtex cerebral, o estímulo ativa sequencialmente várias estruturas do cérebro até chegar ao hipotálamo, importante na regulação do metabolismo e das emoções. Os neurônios do hipotálamo se comunicam com os do tronco encefálico, onde liberam uma substância conhecida como beta-endorfina. Essa substância é semelhante à morfina, um potente analgésico usado especialmente para alívio da dor em pessoas com câncer. A ação da beta-endorfina desencadeia a mesma cascata que, através da serotonina, culmina no fechamento do portão da dor, conforme descrevemos acima.


Além da serotonina, outro neurotransmissor importante no mecanismo supraespinhal da Acupuntura é a noradrenalina. Sua ação ainda não está completamente esclarecida, mas já sabemos que é muito semelhante à da serotonina, exceto pelo fato de que a própria noradrenalina é capaz de fechar o portão da dor, sem necessitar de neurônios intermediários.

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