O psiquiatra deve ser neutro?

Imagem: Vincent Van Gogh, Retrato do Dr. Gachet
Quando a gente pensa num psiquiatra ou também num psicólogo, pode vir a imagem de uma pessoa sentada ali em sua cadeira de forma muito confortável e quase imóvel, com uma postura assim meio blasé, distante, de alguém que não se abala com nada e que quase nem esboça reação.
Essa caricatura costuma ser reforçada aí nos filmes, na TV, e pode passar a ideia de que o psiquiatra deve ser neutro, não deve tomar partido, não deve se posicionar. Mas será que é assim mesmo?
Como pessoa, é óbvio que cada psiquiatra vai ter suas próprias experiências, crenças e valores, e é enganoso pensar que isso não vai influenciar na sua prática profissional. Essas características interferem desde a forma como cada psiquiatra interpreta os sintomas do paciente, levando a diferentes diagnósticos, passando por suas preferências de tratamento até o estilo como ele se comunica - se é mais ou menos direto, quais palavras são escolhidas, etc.
Ao mesmo tempo, é importante que o psiquiatra busque não julgar, o que é diferente de ser neutro. De fato, se um paciente se queixa de um conflito numa relação, pouco interessa saber quem está certo ou errado - isto é, pouco interessa tomar partido -, mas sim entender em que medida aquilo traz sofrimento para o paciente, acolher esse sofrimento e ajudar o paciente a lidar com ele. Mas se esse mesmo paciente é claramente vítima de violência na relação, o psiquiatra deve orientá-lo a respeito e auxiliá-lo a tomar as medidas necessárias.
Não ser sempre neutro também não significa decidir pelo paciente. Justamente porque o psiquiatra não consegue ser neutro, qualquer decisão que ele tome só faz sentido dentro das percepções dele como psiquiatra - e não do paciente. Ou seja, por mais que o psiquiatra possa auxiliar o paciente a entender as consequências de cada uma de suas decisões, a decisão de fato cabe ao paciente porque é a partir da perspectiva dele que essa decisão deve fazer sentido.